Shalom Aleichem!
Hoje eu me questionei sobre o livre arbítrio, será que D'us interfere neste princípio?
Muita das vezes encontramos situações em nossas vidas, que aceitamos ser o "dedo" de D'us, pois as coisas mudaram radicalmente sem nossa interferência. Depois de um tempo, vemos que foi pelo bem, aceitamos aquela realidade, mas a questão é: Se acontece algo ruim na humanidade, dizemos que é o livre arbítrio, e vem do homem essa maldade. Mas e quando acontece diretamente situações que não dependem de você escolher entre ser um perverso ou um justo?
Exemplo de situações:
Você levava uma vida de total perversidade, e então você perde o fator que é responsável por aquela fonte de perversidade, aquilo praticamente some e você se inclina para a Torá.
Misericórdia Divina? ou Interferência Divina?
Se foi a misericórdia, por que ela não alcança a todos?
Algumas situações: Pessoas que nascem em condições precárias e estão praticamente fadadas a morte antes dos 30.
Crianças que são abusadas até mesmo pelos familiares, por que essa alma desceu até essa família?
Câncer ósseo (osteossarcoma) em crianças e senhores de idade.
Se foi interferência, por que o mundo é tão mal? Se ele pode, e já interferiu dessa forma?
Algumas situações: Guerras constantes em Israel, fome na África, estupro de pessoas inocentes.
Pegaremos o estupro; vemos no Tanya, que a única maneira que não dá pra reverter um pecado ou uma situação em mitzvá em mérito é quando esse pecado já se enraizou na terra.
O sêmen em vão por exemplo, você pode elevar aquela força para algo melhor, em devoção ao Eterno. Já relações proibidas, como incesto ou até mesmo o estupro, onde se nasce um bastardo já não é possível reverter porque o pecado já tomou forma, ela já se alimentou nas kelipot e deu vida, já existe sangue correndo nas veias. Como isso pode ser visto que é para o bem? (Tudo é para o bem?).
Continuando...
A princípio, achamos muito legal quando acontece essas "interferências ou misericórdia", mas até quando esse achar legal não é o ego? Porque em você ele viu o mérito futuro, e no seu próximo não?
Se procuramos a palavra mérito no dicionário veremos estas definições: 1 - O que faz com que uma pessoa seja digno de elogio, de recompensa, de premiação.
Até que ponto você é digno dessa "interferência ou misericórdia" e o próximo não? se em sua situação é um completo perverso como o próximo.
2- O mérito também é sinônimo de valor.
Existe então pessoas mais valorosas do que as outras aos olhos de D'us?
Percebemos isso no nascimento de Moshê Rabeinu, com certeza ele teve muito mérito em suas obras, mas e no nascimento? porque a vida dele importava mais do que as outras crianças que foram mortas a mandato do faraó? As vezes podemos pensar ser fácil responder isso, vendo o que Moshê fez, mas se você se encontrasse no tempo em que isso ocorreu, e se fosse o seu filho?
A Torá é meritocracia alcançada através da real devoção a D'us e Sua Palavra ou somos apenas umas marionetes?
Se não existir o mérito e a liberdade de buscar a luz, qual é o sentido do recipiente vir, sofrer e morrer sem a minima chance de buscar essa luz?
Questionamentos para possíveis respostas:
1 - As almas que vem e sofrem estão consertando algo de uma encarnação anterior.
Questionamento: O Guehinom não é visto mais apropriadamente como um purgatório? nossa alma é como se fosse a roupa de um rei, que devolvemos ela totalmente limpa ou um pouco suja, esse Guehinom seria esse processo de limpeza para devolver ao rei. Por que então ela teria que voltar? O Guehinom é limitado?
2 - Mérito dos ancestrais.
Questionamento: Será mesmo? como que uma criança que vem de uma tribo que cultua deuses, teria chance de sair desse antro? se seu avô, avó e tataravó já praticavam esses rituais? E se puxarmos a arvore genealógica desde o começo, onde chegaremos em Adão e Eva, por que o mérito deles não é contado? já que é um ancestral em comum em todos nós.
Aguardo a opinião de vocês.

B''H
Interessante a sua análise irmão porque expõe o ponto de vista do recipiente e comprova aquilo que nosso mestre Isaac Luria, de abençoada memória, dizia: - Por meio do ocultamento, o recipiente adquire uma visão independente e fixa dos acontecimentos, mesmo que elas sejam voláteis. Ora... Vinde e veja!
"Mas e quando acontece diretamente situações que não dependem de você escolher entre ser um perverso ou um justo?"
R: Não existe nenhuma situação que não depende de você. O fato do recipiente pequeno não saber exatamente a razão dos acontecimentos é que deve servir-lhe como estímulo de busca incessante da Verdade, e assim ele chegará no leite e mel da Torá, cedo ou tarde, nesta vida ou em uma próxima. HaShem é piedoso e paciente. Em verdade, Sua paciência é infinita e Ele continua ansiando pelo retorno do recipiente com a mesma força do príncipio da contração - o Seu amor resiste ao tempo e ao espaço, porque não depende deles, é infinito. E tanto assim é, que o ímpio pode viver vidas e vidas sem mesmo suspeitar que existe HaShem, e HaShem continua o sustentando e dando-lhe o sopro da vida a cada instante, fervorosamente, até que finalmente chegue o dia perfeito - a retificação. Por isso, reafirmo, não existe nenhum 'efeito' que não tenha uma 'causa' que o anteceda, mesmo que essa 'causa' seja imperceptível. Em verdade, essa é a única escolha que você tem: Ser um justo ou um perverso.
"Você levava uma vida de total perversidade, e então você perde o fator que é responsável por aquela fonte de perversidade, aquilo praticamente some e você se inclina para a Torá.
Misericórdia Divina? ou Interferência Divina?"
R: Nem um, nem outro. Mérito. Tudo nesta universo é efeito de uma causa que o antecede. Então você pergunta, qual o mérito de um perverso? O mérito que o sustenta de outras encarnações. Mas e se ele foi um perverso em todas as encarnações? HaShem considera as vidas que ainda virão, os méritos que ele poderá adquirir. Não é misericórdia, não é interferência, é mérito adquirido através da roda das reencarnações. Não existe 'o melhor' ou 'o pior', existe os mais experientes e os menos experientes, os mais experientes, como o nome diz, tem mais bagagem [vidas] e com isso, maior discernimento, os menos experientes tem menos bagagem, contudo, ambos têm o mesmo valor, porque no final, o mundo todo será retificado e o 'Grande Recipiente' será restabelecido.
Essa resposta deve responder as outras questões que você apresenta em "Continuando...", caso não, por favor, faça um comentário.
"1 - As almas que vem e sofrem estão consertando algo de uma encarnação anterior.
Questionamento: O Guehinom não é visto mais apropriadamente como um purgatório? nossa alma é como se fosse a roupa de um rei, que devolvemos ela totalmente limpa ou um pouco suja, esse Guehinom seria esse processo de limpeza para devolver ao rei. Por que então ela teria que voltar? O Guehinom é limitado?"
R: O Guehinom é como uma lavanderia, ele vai limpar suas roupas. Contudo, o recipiente tem um objetivo, tem um 'porque' de existir. E qual é o motivo? Aderir maior qualidade e quantidade de Luz Superior. Como se faz isso? Adquirindo similaridade de forma com a Luz Superior. E isso não tem conexão com o Guehinom, percebe? A alma esteja limpa ou seja, o 'porque' dela ter sido criado continua a existir. E você pergunta se o Guehinom é limitado - Sim! Ele é limitado em limpar apenas as transgressões daquela vida. Esse é o papel dele. Por que a alma teria de voltar? Para adquirir experiência na adesão de maior qualidade e quantidade de Luz Superior.
"Sobre o Mérito dos ancestrais"
R: No caso da criança descendente dos povos pagãos, ainda sim é parte do 'Grande Recipiente' e portanto, contém [em menor nível, claro] parte de Adam Kadmon e logo, constitui parte da Estrutura Divina, o que acarreta no objetivo de restauração do 'Grande Recipiente' e adesão maior de Luz Superior, como mencionado anteriormente. Por isso, a resposta é que todos, em menor ou maior nível, têm uma fagulha de busca da Verdade em seu interior, em alguns se desperta tão logo, em outros, tão tarde.
Ou seja, não, D'us não quebra o livre arbítrio do Homem, em verdade, esta regra é o que permite que exista meritocracia nos mundos espirituais, e logo, níveis diferentes de ocultamento da Luz Superior.
Realmente Irmão, eu sempre tive questionamentos sobre livre Arbítrio, Livre Agente , Eleição incondicional , Predestinação e isso era visto como afronta em meios teológicos , acabam impondo respostas que se tornam meias verdades ....Hoje acredito que o livre Arbítrio exerce parte de nossas decisões , tem situações impostas por Hashem que não temos opção de interferir , como nascer em um lar pagão , ou em uma nação idólatra , ter pais com caráter e condições de nós proporcionar oportunidades futuras .... Acredito que temos o que devemos ter , devemos honrar essa vestimenta da maneira mais digna e aproveitar o máximo para evoluirmos e entregarmos essa existência com Mérito e Honra como um soldado leal de Hashem que cumpre suas determinações e decretos impostos ......
Eu acho dificil aceitar que um perverso total, de uma hora pra outra, em um passo de mágica, deixa de ser um perverso. Acho que é uma forma simples de enxergar um processo de evolução/retificação muito complexo que, na maioria das vezes, está dentro não só dessa vida em questão, mas de várias reencarnações. Deus quer dar as bençãos para seus filhos, mas ele não quer simplesmente dar de mão beijada. Ele quer que o filho queira, ele quer que o filho peça; e o seu filho não ter essa inclinação é uma etapa natural. O erro é uma etapa natural do proceso, visto que para que aconteça a correção de algo é preciso que haja esse erro para ser corrigido. Seguindo a lógica de que "tudo é pro bem", eu entendo que até mesmo os "erros" tem uma razão de ser. Tudo é um processo de evolução e o erro é apenas uma parte, essencial desse processo. Seguindo essa mesma lógica, a ideia de que a misericordia não chega a todos, no meu entendimento, é erronea. Pois a misericordia está no fato de existir a possibilidade da retificação, pois não existe o mal pelo mal. Sempre existe a possibilidade de gerar mérito. Sobre esses outros exemplos, como pessoa que estão fadadas à morte antes dos 30, crianças abusadas, câncer, etc. A minha opinião é a mesma da do perverso.. Não da pra gente tentar entender as "contas de deus", ou seja os débitos e créditos carmicos. É um processo complexo, que perdura por várias encarnações. Sobre a questão de ser do ego achar "legal" essas "interferências divinas" positivas: eu concordo... Pois Deus não simplesmente escreveu o destino e pronto, Ele escreve e reescreve esse "script" o tempo todo, ou seja: tudo sofre interferência divina. Doce ou amargo, a mão de Deus está sempre ali. E os atos perversos estão entrando pra conta do sujeito. (Acredito que se utilizar dessa encarnação para realizar atos tão perversos assim entra na proibição de não utilizar o nome de Deus em vão e, no meu ver, essa alma tem todos os requisitos pra devolvida ao zero absoluto.) "A Torá é meritocracia alcançada através da real devoção a D'us e Sua Palavra ou somos apenas umas marionetes?" Para mim a ideia de que tudo é pro bem, basicamente, significa que tudo o que acontece com vc é necessário para o seu processo de desenvolvimento espiritual. Ou seja: tanto o decreto amargo quanto o ruim, sempre são oportunidade de gerar mérito. "Qual é o sentido do recipiente vir, sofrer, e morrer sem a minima chance de buscar essa luz?" Boa questão, realmente é muito dificil ver uma situação dessas e pensar que, de alguma forma, isso pode ser para o bem... espero poder entender melhor isso algum dia. Sobre a questão do Gehinon, eu enxergo da seguinte forma: Encarnamos no mundo para nos retificar, para evoluir espiritualmente. Quando nascemos nosso "corpo está em branco" ou seja: não temos memorias, dogma, habitos, cultura, referencias... vamos crescendo, estudando, evoluindo... Mas chega uma hora que nossos vícios, hábitos, visão de mundo, traumas, etc podem impedir de evoluirmos mais. É aí que entra a reencarnação que é o mecanismo que Deus tem de nos dar um novo "corpo em branco", sem esses dogmas, vícios, etc e então podemos continuar a evolução espiritual de onde paramos na outra vida. O Guehinom não passa de uma parte essencial desse processo de apagar esses fatores que impedem a evolução continua. Então, sim o Guehinom é limitado, apenas uma parte de um grande e complexo processo.
Acredito que Deus não quebra o livre arbítrio. Ele nos dá sempre o direito de escolha, entre ser um justo ou um perverso , e devemos sempre ter a consciência de que nossas escolhas tarão para nossas vidas as consequências, sejam elas boas ou ruins . Sendo assim tbm não acho correto dizer que Deus nos pune, somos nós quem punimos a nós mesmos a partir das escolhas que fazemos .